terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A ALQUIMIA E A MAÇONARIA - Parte II



De autoria do Ven. Irmão Lucas Francisco GALDEANO 
Venerável Mestre da Loja “Universitária-Verdade e Evolução” nº.3492 do Rito Moderno (2005-2007) ex-Venerável da Loja Miguel Archanjo Tolosa nº.2131 do R.E.A.A.(1991-1993) ex-Grande Secretário Geral de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil (1993-2001) Presidente do Conselho Editorial do Jornal Egrégora -Órgão Oficial de Divulgação do Grande Oriente do Distrito Federal.



Morte, um tema muito caro para os maçons e alquimistas. Na Maçonaria a morte é tratada de forma muito especial, na Lenda de Hiram que perpassa vários graus da Escada de Jacó. O maçom conhece muito bem estas palavras:... o pó volte a Terra e o espírito volte a Deus que o deu... 
Para o alquimista a morte também é um processo, uma continuação que faz parte do trabalho da coagulatio. Esta pertence ao elemento Terra, e costuma ser seguida por outros processos, em geral pela mortificatio e pela putrefactio. Aquilo que se concretizou plenamente ora se acha sujeito à transformação. Tornou-se uma tribulação, que chama à transcendência. Eis como podemos entender as palavras do apóstolo Paulo ao vincular o corpo e a carne à morte: "Quem me libertará do corpo desta morte?... Porque, se vivemos na carne, morreremos; mas se por meio do espírito, mortificarmos os feitos do corpo, viveremos... Porque aquele que vive segundo a carne inclina-se para as coisas da carne. A inclinação da carne é a morte; mas a inclinação do 
espírito é a vida e paz”. 
A identificação do corpo e da carne com a morte deve-se ao fato de que tudo aquilo que nasce no plano espaço-temporal deve submeter-se às limitações dessa existência, que incluem um fim a morte. Esse é o preço do ser real. Uma vez plenamente coagulado ou encarnado, o conteúdo torna-se sem vida, sem maiores possibilidades de crescimento. Emerson exprime essa idéia: "Somente a vida é beneficio, e não a ter vivido. A força cessa no instante do repouso; ela reside no momento da transição de um estado passado para um novo, na voragem do abismo, no arremesso contra o alvo. Eis um fato que o mundo abomina. O fato de a alma vir a ser porquanto isso degrada o passado, tornando todos os bens em pobreza, toda reputação em vergonha, confundindo o santo com o velhaco, varrendo Jesus e Judas para longe, sem distinção.” Realizada a plena coagulatio, vem a putrefactio. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no espírito do espírito ceifará a vida eterna. Um texto alquímico trata do mesmo tema: o leão, o sol inferior pela carne se corrompe... Assim, o leão tem corrompida a natureza por meio da sua carne, que segue os ritmos da lua, e é eclipsada. Porque a lua é a sombra do sol, e com o corpo corruptíveis é consumida; e, por meio da destruição da lua, o leão é eclipsado com auxílio da umidade de mercúrio; o eclipse não obstante, é transmutado tomando-se útil e de melhor natureza, e ainda mais perfeito do que o primeiro. 
Em vários graus da Maçonaria o crânio é uma peça importante tanto na representação do grau como na ornamentação do templo para o ritual do grau. Pois bem, na alquimia o crânio como momento mori é um emblema da operação da mortificatio. Ele produz reflexões a respeito da mortalidade pessoal de cada um e serve como pedra de toque para os valores falsos e verdadeiros. Refletir sobre a morte pode nos levar a encarar a vida sob perspectiva da eternidade e, desse modo, a negra cabeça da morte pode transformar-se em ouro. Com efeito, a origem e o crescimento da consciência parecem estar vinculados de maneira peculiar à experiência da morte. Talvez o primeiro par de opostos a penetrar na consciência em vias de despertar dos seres humanos primitivos tenha sido o contraste entre o vivo e o morto. E provável que somente a criatura mortal seja capaz de ter consciência. Nossa mortalidade é nossa fraqueza mais importante e derradeira. E essa fraqueza, segundo C. G. Jung, foi o elemento que colocou Jó em vantagem diante de IAHWEH. 
Esta palavra é muito significativa em alguns graus da Escola Filosófica da Maçonaria (REAA). IAHWEH é o nome da Divindade expressa no Antigo Testamento do Livro Sagrado. Para o alquimista IAHWEH redime e purifica pelo fogo sagrado, daqueles que passaram pela calcinatio: "Não temas, porque eu te resgatei, eu te chamei pelo teu nome, és meu. Quando passares pelo mar, estarei contigo; quando passares pelos rios eles não te submergirão. Quando passares pelo fogo, a chama não te atingirá e não te queimarás. Pois eu sou IAHWEH, teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador. 
O Juízo final pelo fogo corresponde à provação pelo que testa a pureza dos metais e lhes retira todas as impurezas. Há inúmeras passagens do Antigo Testamento que usam metáforas para descrever os testes que IAHWEH submete seu povo eleito. Por exemplo, IAHWEH diz: "Voltarei minha mão contra ti, purificarei as tuas escórias no cadinho, removerei todas as impurezas." (Isa., 1:24,25) 
"E eis que te pus na fogueira como a prata, testando-te no cadinho da aflição. Por causa de mim mesmo e só por mim mesmo, agi - deveria meu nome ser profanado? Jamais darei minha glória a outro." (Isa.,48;10,11) 
"Eu os levarei ao fogo, e os purificarei como se purifica a prata, e os testarei como se testa o ouro. Eles invocarão meu nome e eu escutarei, respondendo: Eis o meu povo; e todos dirão IAHWEH é meu Deus.” (Zacarias 13:9) 
 O fogo purifica e santifica a matéria bruta e corrompida, os maçons e alquimistas sabem disso, no entanto, o fogo da Senda Sinistra mata e regride a evolução que o ser procura na sua existência. Este fogo nada mais é do que a luxúria, a inveja e ira. Nesta categoria temos a ira que moveu Nabucodonosor, ao destruir o Templo de Salomão. Ele personifica o motivo do poder, a autoridade arbitrária do ego inflamado, que passa pela calcinatio quando suas pretensões irresistíveis são frustradas pela presença 
da autoridade transpessoal. Nabucodonosor corresponde ao rei alquímico, que serve de alimento ao lobo e depois é calcinado.

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