segunda-feira, 28 de março de 2011

As Origens Religiosas e Corporativas da Maçonaria







A pesquisa das origens da maçonaria leva à busca das características das instituições primitivas. De modo resumido, estes traços são os seguintes:

Ÿ   Em primeiro lugar, trata-se de uma organização de trabalho, a da construção, onde o trabalho não era especializado como atualmente,  mas implicava num vasto conhecimento da Arquitetura .
Ÿ  Esta organização ia além do caráter estritamente profissional. Os seus membros deviam se considerar irmãos e se assistir mutuamente.
Ÿ  Esta associação, operativa e de assistência mútua, possuía ritos tradicionais. A admissão era feita através de iniciação e as suas reuniões continham práticas ritualísticas.
Ÿ  A partir do século XVII a associação passou a aceitar membros estranhos à sua atividade profissional e, finalmente, assume acentuado caráter universal.
A partir destas características, dois métodos se oferecem ao estudo histórico da instituição maçônica:

Ÿ  O primeiro método limita-se à pesquisa das origens da maçonaria moderna .  As fontes estão principalmente na Inglaterra e nos remetem às Guildas dos séculos XIII e XIV.

No entanto, este método não explica a universalidade da Instituição e a existência, na mesma época, de associações idênticas no continente europeu, onde os seus ritos pareciam nascidos de uma fonte comum, existente em épocas mais recuadas.

Ÿ  O segundo método leva-nos à pesquisa de grupos ou associações da Antiguidade e da Alta Idade Média cujas características se aproximem daquelas que levaram ao desenvolvimento da Maçonaria Operativa .

Um fato, porém não deve ser posto em dúvida: a Maçonaria atual nasceu da Maçonaria Operativa e, portanto devemos estudá-la .  Outro fato igualmente certo é que a Maçonaria incorporou influências diversas em seus ritos, influências estas que também devem ser estudadas.

Para ser completa, uma pesquisa histórica precisará considerar o contexto social, político, econômico, jurídico, religioso e filosófico que condicionou a ocorrência destes eventos.  Do ponto de vista cronológico, estes eventos são os seguintes:

Ÿ  Os Colégios Romanos, seus derivados Galo-Romanos, Italianos e Bizantinos, e seus descendentes da Idade Média .
Ÿ  As   Associações    Monásticas   dos   Construtores,    constituídas   pelos Beneditinos, Cistercienses e Templários.
Ÿ  Sob a égide destas associações e sob a forma de confrarias laicas ou de Guildas, ocorre o nascimento e a formação da Maçonaria Operativa .

AS ANTIGAS CORPORAÇÕES

OS COLÉGIOS DE CONSTRUTORES DE ROMA

Em razão do caráter sempre sagrado do trabalho e da ciência, as associações profissionais foram sempre sacerdotais entre os povos da antiguidade.
No Egipto, os sacerdotes formavam classes separadas e consagravam-se ao ensino de algum ramo especial  do conhecimento  humano.  Em todos os  casos, os alunos passavam por um noviciado e por provas de iniciação para se assegurar de sua vocação .

Como as demais ciências, a Arquitetura também era ensinada em sigilo.  A função sagrada de arquiteto construtor era exercida pelos sacerdotes, como por exemplo Imhotep, sacerdote do Deus Amon, que era conselheiro do faraó Sozer (3.800 AC) e que construiu a primeira pirâmide em Sakkarah.  Sennemout, arquiteto da rainha Hatsepout, era o controlador dos domínios de Amon e chefe dos sacerdotes de Monthou, na cidade de Armant.

O caráter sacerdotal e místico das associações de construtores é encontrado entre os persas, os caldeus, os sírios e os gregos. A religião também era o fundamento dos Colégios Romanos e de nossas antigas confrarias.

Em Reis V, 13 e seguintes e em VII, versículos 13 e 14, vê-se que Salomão teve, sob a direção de Hiram, milhares de obreiros envolvidos na construção do Templo de Jerusalém.
Na Grécia, as associações profissionais eram conhecidas por Hetarias. Uma lei de Sólon de 593 AC e cujo texto consta da obra de Gaius (sobre os Colégios e as Corporações) permite às Hetarias, ou Colégios, ter seus próprios regulamentos, desde que não fossem contrários às leis do Estado .


O caráter sagrado dos construtores sobrevive nas lendas dos reis arquitetos como Dédalo, Trophonius e Agamedes. Um exemplo típico é o dos sacerdotes de Dionísios ou Iachus, o Sol.  Estes sacerdotes foram os primeiros a construir estradas e estádios para os jogos de provas físicas e de ginástica. Em suas cerimônias secretas, os dionisíacos usavam simbolicamente os seus utensílios de trabalho.

Estrabão, em sua obra Theos, afirma que os reis de Pérgamo (300 AC) tinham uma iniciação particular que incluía palavras e sinais de reconhecimento.
O mais antigo código chegado até nós, o código babilônico de Hamurabi, (2.000 AC) descoberto em Susa, já menciona as associações dos carpinteiros e dos talhadores da pedra .

OS COLÉGIOS ROMANOS

Segundo Plutarco, os Colégios de Artesãos foram fundados em Roma pelo rei Numa Pompílio, no ano 715 AC. A influência dos Colégios Romanos foi fundamental nas confrarias de construtores da Idade Média .
Sob Sérvio Túlio (578-534 AC) os Colégios Romanos aparecem com o caráter definitivo  de  corporação.  Cícero,  na  sua  obra  De Oficies  (sobre as profissões) coloca os integrantes dos Colégios entre os cidadãos de primeira classe do Império Romano .

No reinado de Alexandre Severo, apesar de reprimidos pela Lei Iulia, existiam já trinta e dois Colégios em atividade no Império. Como em todos os povos da antiguidade, o Direito e as Instituições Romanas tinham base essencialmente religiosa.

O caráter sagrado do trabalho tinha por objetivo a divinização do Homem. Para os membros dos Colégios de Construtores o mundo era um imenso canteiro de obras. O uso de sinais de reconhecimento garantia e protegia os segredos de sua profissão, herdados dos egípcios, dos gregos, dos judeus, dos persas e dos sírios.

O COLÉGIOS ROMANOS NA GÁLIA CENTRAL ( FRANÇA )

Estes Colégios foram facilmente implantados na Gália, após a sua conquista por Caio Júlio César. No século IV DC eles já existiam em Marselha, Valência, Nimes, Aix-la-Chapelle, Leão,  Narbona e  Lutécia (Paris),  onde assumiram  grande prestígio  com a  construção de importantes edifícios.

Escavações realizadas em 1715 no subterrâneo da Catedral de Notre Dame de Paris encontraram uma lápide escrita em Latim, cuja inscrição era um cântico de louvor, dedicado a Júpiter pelos habitantes de Paris.
Os Colégios também floresceram em Trèves, a rica capital dos Gauleses, e na Renânia onde existem numerosos vestígios romanos.

OS COLÉGIOS ROMANOS NA INGLATERRA

Uma vez que a Maçonaria moderna teve sua origem na Inglaterra, devemos conhecer em maior profundidade a história dos seus Colégios de Construtores.
No ano 43 DC o imperador Cláudio enviou à ilha algumas brigadas dos Colégios de Construtores então estacionadas com as legiões romanas ao longo do rio Reno, na Gália .  O seu objetivo foi construir as defesas romanas dos ataques do celtas do norte (os escoceses).

Na  época, ainda  não existiam  cidades nem  castelos na  Grã-Bretanha.  Os Colégios foram encarregados de construir campos fortificados para as legiões.  Em pouco tempo estes campos se transformaram em cidades dotadas de termas, templos e palácios. Uma destas cidades foi York, então chamada de Eboracum, célebre na história da Maçonaria. Os Colégios de Construtores edificaram também três grandes muralhas no norte do país, na intenção de conter os ataques dos celtas.

Em 287 DC, Carausius, comandante da frota romana na Gália Superior (Bélgica), declara-se imperador da Inglaterra e confirma todos os antigos privilégios dos Colégios de Construtores que foram estabelecidos ao tempo de Numa Pompílio e de Sérvio Túlio .

Em 306 DC Constantino assume o poder em Roma e proclama o cristianismo a religião  oficial  do  Império.  Durante  um  século a  nova   religião se expande na Inglaterra, onde os celtas finalmente conseguiram expulsar os romanos, no início do séc. V DC. Na mesma época toda a Europa caía no domínio dos bárbaros.

OS COLÉGIOS ROMANOS E AS INVASÕES BÁRBARAS

Na Gália, as leis romanas subsistiram nos reinos dos Visigodos e dos Burgúndios, através da Lex Romana Visigothorum ou Breviário de Alarico .  Este código de leis, que também vigorava na Aquitânia, no Languedoc e em Narbona, protegia os Colégios dos Construtores.

Com a sobrevivência destas instituições também no Loire, nos vales do Reno e do Saône, várias construções de grande porte foram realizadas, como por exemplo a catedral de Clermont (450-460 DC) cujos muros tinham gravados os utensílios usados na sua construção .

Entre 475 e 550 DC os Construtores edificaram muitos palácios e monumentos, como por exemplo as Colunas de Auvergne, a Catedral dos Santos Apóstolos em Rouen e a magnífica igreja de São Vicente em Paris, no bairro de Saint-Germain-de-Pres.

Ao final do século VII e início do século VIII os Anglo-Saxões recrutaram mestres construtores de Roma e da Gália, herdeiros dos Colégios Romanos e organizados em forma de associações.

Na época, as basílicas da Gália já mostravam estilo diferente das romanas, devido às influências orientais introduzidas pelos Godos e pelos Visigodos, trazidas do Egito, da Palestina, da Síria e da Pérsia sassânida .

Em 568 DC os Visigodos Lombardos invadiram a Itália e fundaram um reino que só seria vencido por Carlos Magno em 774 DC. Nesta época, somente Roma,  Ravena e Veneza  permaneceram livres e ligadas ao Império Romano do Oriente, em Bizâncio (Constantinopla/Istambul). É no reino Lombardo que surgem os Mestres Comacinos, da região de Côme, reconhecidos como excelentes artesãos da arte de construir.  A sua ação influenciou o desenvolvimento da Arquitetura no norte da Itália entre os séculos VII e XII. A sua organização era semelhante à dos Colégios do Império Romano do Oriente.

 AS ASSOCIAÇÕES MONÁSTICAS

Ao final do Império Romano, com o aparecimento dos pequenos Estados suseranos, as antigas instituições foram gradualmente desaparecendo, substituídas pelas classes dos homens livres, dos aldeãos e dos servos. Para garantir a sua sobrevivência, os Mestres Construtores se refugiaram nas igrejas, nos mosteiros e nos conventos que haviam construído na alta Idade Média .

A história das Associações Monásticas está ligada à das Ordens Religiosas, em
particular à Ordem dos Beneditinos e à Ordem do Templo .
O papel dos Templários está intimamente ligado ao surgimento da Maçonaria Moderna .

Para conhecer a extensão da influência dos Templários, seria necessário analisar a formação das Associações Monásticas nas regiões góticas, assim como a sua atuação na transição da arte romana para a arte gótica .

Na Inglaterra, as confrarias monásticas se desenvolveram sob a proteção dos Beneditinos de Santo André. Entre os anos de 856 e 1307 DC diversas igrejas e catedrais foram construídas na Inglaterra pelas associações monásticas de construtores, comandadas por mestres notáveis como Santo Augustin, São Dunstan, arcebispo de Canterbury, Gauthier Gifford, arcebispo de York e Gauthier Stapleton, bispo de Exeter.

Uma destas associações monásticas, a dos Colideus, relacionou-se com o rei Athelstan, que iria ter papel decisivo na história da Maçonaria. Em sua origem, os Colideus eram um pequeno grupo de cristãos. Foram os primeiros a introduzir o cristianismo na Inglaterra, e em sua organização adotaram os princípios dos Colégios Romanos, existentes na Inglaterra até à saída dos romanos da ilha britânica .

A LENDA DE YORK

Esta Lenda é contada no Poema Regius ou Manuscrito de Halliwel, datado do final do século XIV e descoberto em 1838 no Museu Britânico por James  Halliwel.  Athelstan governou a Inglaterra de 924 a 940 DC. Ele completou a conquista dos pequenos reinos iniciada por seu avô, Alfredo o Grande, e tornou-se o primeiro rei de toda a Inglaterra .

Athelstan utilizou os serviços dos Colideus na construção de vários castelos, abadias e mosteiros. Em 926 DC, em sua passagem por York (a Eboracum dos romanos) após vitoriosa campanha militar contra os escoceses, o rei se reúne com os Colideus na catedral de São Pedro .

Para manter a ordem nos trabalhos construtivos e para punir os transgressores da lei, o rei proclamou um édito dirigido a todos os maçons, determinando que todos os Colideus deveriam reunir-se anualmente em York, para tratar dos assuntos de interesse da associação.
A Lenda conta que na mesma ocasião - 926 DC -  o filho adotivo de Athelstan, o príncipe Edwin, concedeu Carta Constitutiva à Loja de York e tornou-se o seu primeiro Venerável Mestre. Esta Loja teria permanecido ativa até 1172 DC, quando teria sido fechada pelo rei Henrique II.

O artigo Arte Céltica inserto no Dicionário de Arqueologia Cristã, de Dom Cabral, fornece a lista dos edifícios, monastérios e igrejas construídos pelos membros da Loja de York. Eles foram os introdutores do estilo gótico ou ogival.  Um dos principais exemplos deste estilo  na Inglaterra é a Abadia de Westminster, em Londres.

AS  GUILDAS

As  Guildas  tiveram  sua  origem  nos  Colégios  Romanos  e  receberam  em  sua formação a influência das idéias cristãs de fraternidade. Dividiam-se em Guildas Religiosas ou Sociais, Guildas de Mercadores e Guildas de Artesãos.

Elas já são mencionadas nas Iudicia Civitatis Londoniae redigidas no reinado do rei Athelstan. As Guildas de Artesãos são já influentes na Inglaterra no reinado de Henrique I (1100-1133), descendentes que eram de uma confraria de construtores que os Templários trouxeram da Terra Santa para construir a sua Igreja de Fleet Street em Londres (Catedral de São Paulo).

OS  TEMPLÁRIOS

A Ordem dos Templários, cujo nome correto é Milícia do Templo, foi criada em Jerusalém em 1118, tendo como seu primeiro Grão-Mestre Hugues des Pains, sob a proteção de Theocletes, 67º sucessor do apóstolo São João .

Seus membros pronunciavam três votos:  Obediência, Pobreza e Castidade e tinha por objetivo defender o Santo Sepulcro e os peregrinos da Terra Santa .
Através de suas numerosas e poderosas Comanderias espalhadas pela Europa, a Ordem do Templo exerceu forte influência sobre as Associações Monásticas de Construtores e sobre as Guildas, constituindo confrarias religiosas comparáveis às dos Beneditinos e Cistercienses. Antes de dar início a qualquer atividade importante, os Templários invocavam a Deus da seguinte maneira:   NON NOBIS DOMINE SED NOMINE TUO AD GLORIAM (o que vamos realizar oh Deus, não é para nosso proveito, mas para a glória do Teu nome).

OS TEMPLÁRIOS E A MAÇONARIA

Quando os Templários, ajudados pelos cristãos, disseminaram as suas comandarias pela Europa, dividiram com eles os segredos dos ritos tradicionais dos Colégios Bizantinos - os Colégios Romanos do Oriente - e dos Tarouq Muçulmanos, fundamentados no sincretismo hermético .

Em todas as suas possessões os Templários tinham pedreiros livres a seu serviço, dirigidos por um oficial do Templo. Na Inglaterra, ao início do séc. XIII já era grande a influência da Ordem do Templo que se beneficiava dos grandes donativos feitos pelo rei Henrique I. O seu prestígio foi ainda maior no reinado de Ricardo Coração de Leão .

Em sua Cruzada, juntamente com Felipe Augusto, rei de França, ele conquistou Chipre e entregou a ilha à guarda dos Templários, dos quais se tornou grande aliado e amigo. O poder e a riqueza da Ordem do Templo eram tais no início do século XIV que os Templários eram temidos e invejados tanto pela Igreja quanto pelo rei de França, Felipe V, o que acabou provocando a sua extinção .

Com efeito, uma bula do Papa Clemente V, de 2/5/1312, decretou a sua extinção, passando todos os seus bens para a Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, depois Ordem dos Cavaleiros de Malta.

Esta Ordem manteve a proteção aos Mestres Maçons, representada em iconografia do final do séc. XV, que mostra o Grão-Mestre da Ordem recebendo um Mestre Maçom, seguido de seus Companheiros portando os seus utensílios de trabalho: o Esquadro, o Compasso, o Malhete e o Cinzel.

Após a dissolução da Ordem, os Templários se introduziram nas corporações dos construtores para se proteger das perseguições, adotando seus sinais e palavras, e continuando assim a exercer sua influência na formação da Maçonaria Moderna .

Em Portugal, o rei Dom Diniz fundou a Ordem de Cristo com a finalidade principal de acolher os Templários perseguidos, bem como garantir-lhes os seus bens materiais, que de nenhuma forma foram entregues nem ao Papa nem ao rei de França.
Foi particularmente na Escócia que se refugiaram os Templários ingleses, onde receberam a proteção do rei Robert Bruce, que tinha parentes Templários. Em 1314 este rei fundou, em favor dos Maçons, a Ordem de Heredom de Kilwining, concedendo ao mesmo tempo o título de Grande Loja Real de Heredom de Kilwining à Loja fundada em 1150.

Podemos resumir assim a influência dos Templários na formação da Maçonaria Moderna:

Ÿ  Os Templários constituíram associações monásticas de construtores, segundo as tradições greco-romanas, transmitidas pelos Beneditinos e pelos Cistercienses.

Ÿ  Eles tiveram ligações estreitas com as associações arquitetônicas cristãs e muçulmanas do Oriente, das quais receberam influências operativas e iniciáticas .

Ÿ  Após a dissolução da Ordem do Templo, um grande número de Templários se incorporou aos mestrados dos construtores.

A MAÇONARIA CORPORATIVA NA INGLATERRA

Com a Maçonaria Anglo-Saxonica nasceu a Maçonaria Especulativa Moderna . Assim, em sua formação a Maçonaria Operativa recebeu as seguintes influências:
Os Colégios Romanos, em certa medida os Colideus, os monges Beneditinos e Cistercienses e as Confrarias da Normandia e das Ilhas Britânicas. A instituição das Guildas oferece um caráter jurídico às Confrarias.

As Guildas inglesas apresentavam um caráter profissional e religioso . Não só as Guildas não sofreram restrições na Idade Média, como foram influenciadas pelos Hermetistas, Pitagóricos, Neo-Platônicos e Rosa-Cruzes, a partir do momento em que a Maçonaria deixou de ser puramente operativa, e passou a admitir grande número de membros não ligados à profissão dos construtores. Estes novos membros foram chamados de membros especulativos.

Os documentos mais antigos da Maçonaria Inglesa datam do início do séc. XIII, como por exemplo o de 1212, escrito em Latim, com o título “Sculptores Lapidum Liberorum” ( Pedreiros Livres ). Também existem documentos em Francês, de 1292 e 1350.  Neste último apareceu pela primeira vez a expressão “Franco-Maçom ou Pedreiro-Livre”. Outros documentos sobre a Instituição também foram escritos em 1376, 1377, 1381, e 1396, este último escrito pelo arcebispo de Canterbury, o patriarca da Igreja Anglicana .

Data de 1409 outro documento, relativo à construção da Catedral de São Paulo em Londres.  Estes documentos  tratam da  organização, das  normas de trabalho e do embrionário ritual maçônico. Deve-se mencionar que no fim do séc. XVII  parte da maçonaria inglesa era já especulativa e admitia mulheres na instituição, conforme menciona o Estatuto da Loja de York de 1693, que diz que “aquele ou aquela que se tornasse maçom deveria fazer seus juramentos colocando a mão sobre a Bíblia .

Em 1472 e em 1481 apareceram documentos sobre a Antiga e Fraterna Ordem dos Maçons e sobre a Fraternidade dos Franco-Maçons da cidade de Londres. Os dois mais importantes documentos antigos sobre a Maçonaria são o Manuscrito Cooke e o já referido Poema Regius, que é composto de 794 versos e que prova que os mistérios da Fraternidade já eram praticados na Inglaterra, no século XIV.

O Poema Regius afirma o caráter religioso e moral da Ordem, a eleição anual de sua administração em assembléia, menciona a lenda dos Quatro Santos Coroados protetores da Ordem, narra a história da construção da Torre de Babel, menciona as sete artes liberais, faz recomendações religiosas e contém um código social.

O Manuscrito Cooke data de 1430 mas é a compilação de documentos do início do século XIII. Divide-se em duas partes. Na primeira, conta a história da Geometria e da Arquitetura; na segunda, contém um Livro dos Deveres, que compreende a organização do trabalho em nove artigos, promulgados pelo rei Athelstan em 926 DC na cidade de York. Também contém artigos de ordem moral, religiosa e social.

A palava “Especulativo”  aparece pela primeira vez, na frase “o filho do rei Athelstan- Edwin - era um verdadeiro Mestre Especulativo”.

O Manuscrito de Cooke serviu de base a George Paine, segundo Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, para escrever os seus primeiros regulamentos, adotados no dia de São João ( 21/06/1721 ).  Foi também a principal fonte na qual James Anderson e Desaguilliers se basearam para redigir a Constituição editada em 1723.

Importantes são também as Old Charges - os Antigos Deveres - do século XV e relativos à Maçonaria Operativa ou Corporativa de Ofício (Guildas de Ofício). Outros documentos maçônicos antigos e importantes foram destruídos num auto de fé por Desaguilliers, Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, em 21 de junho de 1719 (há quem afirme que o autor da barbárie foi George Paine).

As Old Charges são iniciadas com a invocação à Trindade Cristã, e seu conteúdo é mais ou menos o seguinte:
“Caros Irmãos, nossa intenção é vos fazer conhecer como começou nossa Venerável Ordem Maçônica”.  Segue-se uma descrição das sete ciências, ressaltando a Geometria como a maior delas. O último capítulo conta uma lenda, que é a seguinte:
Após o dilúvio, Hermes Trimegisto encontrou uma das duas colunas nas quais estavam os documentos que continham toda a ciência; ele assimilou tudo o que encontrou e o ensinou à humanidade, tornando-se o pai de todos os sábios. A segunda coluna foi encontrada, segundo o Manuscrito de Cooke, por Pitágoras. Em seguida, é mencionada a história de Nemrod, rei da Babibonia, que deu uma régua a seus maçons. Eles deviam ser fiéis e se amar uns aos outros.

O personagem seguinte é Abraão.  Ele emigrou do Eufrates para o Egito, onde ensinou as sete ciências.  Euclides foi aluno de Abraão.  Com a permissão real, Euclides ensinou a Geometria aos príncipes, filhos do faraó.

Em seguida vem a história de Davi, que protegeu os maçons. Seu filho, Salomáo, termina a construção do Templo, reunindo na obra 24.000 maçons, entre os quais havia 3.000 mestres. Hiram, rei de Tiro, tinha um filho chamado Aymon que era o maior dos Mestres.

A lenda pula vários séculos, e conta em seguida que a Maçonaria foi introduzida na Gália por Namus Groecus, que tinha participado da construção do Templo de Salomão . Ele ensinou a Maçonaria a Carlos Martel, que por sua vez a ensinou aos seus súditos.
A lenda chega a Santo Alban, patrono dos Maçons, e ao rei Athelstan cujo filho, Edwin, era Maçom.

A interrupção da lenda neste ponto sugere que tenha sido escrita nesta época. A verdade é que na Inglaterra e na Escócia a Maçonaria se fortificou com o apoio do poder real e dos bispos e arcebispos da Igreja .

Assim é que, em 1495 o rei Henrique VII defende o uso dos sinais de reconhecimento empregados pelos maçons e, em 24/06/1502, ele preside a reunião da Sociedade dos Maçons de Londres, na ocasião da colocação da pedra fundamental da reforma da Abadia de Westminster.
É somente após a Reforma religiosa de Lutero e com as mudanças na dinastia inglesa, que os maçons ingleses e escoceses, até então fieis à Igreja Católica Apostólica Romana, ofereceram apoio ao rei Henrique VIII e ao Clero Anglicano. Isto viria  contribuir para a criação da Grande Loja de Londres em 1717.

A UNIÃO MAÇÔNICA

O tipo de trabalho realizado pelos maçons tornava-os itinerantes. Devido a isso, era constante a intercomunicação entre as Lojas, e todo o Maçom tinha o direito de ser recebido na Loja da cidade em que estivesse.
Assim, havia necessidade de possuírem sinais de reconhecimento e técnicas e
práticas comuns. No interesse da Ordem, convinha conservar em segredo estes sinais e práticas. Deste modo, foi instituída uma organização que se manifestava da seguinte maneira:

Ÿ  Pela realização de sessões periódicas para tratar dos interesses da Ordem

Ÿ  Pelo reconhecimento de Lojas Regulares, pelas Lojas mais antigas ou Lojas-Mãe

Ÿ  Pela instituição de um protetor comum, denominado Grão-Mestre

Apesar disto, não havia ainda uma organização legislativa e administrativa permanente, nem uma pré-figuração das Obediências, que só deviam se materializar  em 1717,  com a  fundação  da  Grande Loja de Londres e Westminster (Mosteiro do Ocidente). Na época as Lojas eram livres, não subordinadas a uma Loja-Mãe, como nas Grandes Lojas e Grandes Orientes Modernos. Na Inglaterra o papel de Loja-Mãe foi por muito tempo realizado pela Antiga Loja de York, que podia provar ser muito mais antiga que todas as outras.

Na Escócia, as Lojas de Kilwining e de Edimburg possuíam o privilégio de outorgar Cartas Constitutivas a outras Lojas. Este estado de coisas viria desembocar na fundação da Grande Loja de Londres, a 24.06.1717, quando se juntaram as Lojas The Goose and Gridiron, The Crown, The Apple Tree, The Rummor and Grapes, sendo George Paine eleito Grão-Mestre.

Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2001

Antonio Rocha Fadista - M.:I.:

sexta-feira, 11 de março de 2011

MONOGRAFIAS MAÇÔNICAS


Nota do webmaster: Aos irmãos que estranharem certos termos "expostos" esclarecemos: A citação das fontes é imprescindível em um texto de internet e a mesma deve incluir a inserção do link de onde se retirou, portanto a modificação ou supressão de qualquer parte do texto se torna inócua. Ademais, este webmaster não entende que haja maiores exposições se não as etimológicas.

pelo Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33
MAÇONARIA E JUDAÍSMO
 A tradição judaica não é dominada por muitos escritores maçônicos que, por isto mesmo, cometem muitos pecados de interpretação no tocante a sua influência na maçonaria. Antes de apontar a influência  judaica na maçonaria seria interessante fixar alguns traços da cultura  judaica, comumente desprezados, para não se incorrer em erros lamentáveis.  Veja-se, por exemplo, as colunas do Templo de Salomão que estão citadas em  Reis I, 7, 21: “Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a  coluna do lado direito, à qual deu o nome de Jaquin; ergueu a coluna da  esquerda e chamou-a Boaz”. Quando se pergunta a um professor de hebraico o  que significa BOAZ, ele discorrerá sobre o significado e a tradução desta  palavra. Se perguntarmos, ao mesmo professor, o que significa BOOZ, muito  empregada pelos maçons franceses e repetida pelos brasileiros e que é uma  corrupção de BOAZ, ele não saberá, obviamente, o significado da palavra,  pois ela não tem nada a ver com o hebraico. Quanta discussão inútil se  evitaria se se pudesse resolver a questão filologicamente.   Os caracteres da escrita hebraica não possuem vogais.  Normalmente são substituídos por sinais (massoréticos) que agem como  vogais. Assim se um judeu religioso escrevesse o nome de Deus em hebraico  no alfabeto ocidental soaria algo como: D--s ou N-ss-  S-nh-r, tomando  todo o cuidado para não tomar o santo nome em vão. Os judeus pronunciam o  nome de Deus de várias maneiras: El, Eloim, El Shadai, Adonai etc. Contudo, o nome inefável de Deus [desnecessário dizer que o hebraico se lê  da direita para a esquerda] raríssimamente é grafado (quando o é, normalmente para uso em pesquisa etimológica sobre a origem do Nome) ou  pronunciado (sendo nestas pouquíssimas vezes, não é propriamente  pronunciando e sim soletrado com as letras hebraicas: iod, hei, vav e  hei). Em inglês, o nome inefável é transliterado como YHVH (Javé em  Português como se verá a seguir). Os estudiosos cristãos ensinam que os  judeus adoram Deus com um nome relacionado com a letra W. Tal fato se deve  a dominação que os alemães exerceram no campo teológico nos últimos  duzentos anos. O W em alemão é pronunciando como o V em português e inglês  e o vav em hebraico. Os alemães também grafam como J onde encontram o iod  hebreu ou o Y em inglês (tal letra inexiste no alfabeto português) quando  ele ocorre. Assim YHVH apareceria como JHWH. A Bíblia de Jerusalém grafa  como Javé e/ou Iahweh.
A tradição judaica afirma que a atual pronúncia do Nome é um  segredo para sempre perdido desde a destruição do Templo e é considerado  impróprio tentar pronunciar o Nome. Quando o Nome ocorre em caracteres  hebraicos deve ser usada uma palavra substituta, ou seja Adonai.
Outro traço importante na cultura religiosa hebraica é o termo  Bíblia. Claro que Bíblia é o têrmo português para a palavra hebraica  Tanach. Tanach ou Tanack é um acrônimo construído pelas três seções da  Bíblia: a Torah, ou seja a Lei, o Nevi’im, ou seja os Profetas e o Kesuvim  ou Ketuvim, ou seja os Escritos ou os Hagiógrafos. Na versão moderna,  constituem os 39 livros (considerando-se Samuel I e II e Reis I e II como  livros separados) da Escritura Hebraica que, obviamente, os judeus não  chamam de Velho Testamento. Aquilo que os cristãos chamam de Velho  Testamento e Novo Testamento, os judeus chamam de Escritura Hebraica e  Escritura Cristã. O cânon hebraico difere do cânon cristão por  desconsiderar os livros escritos em grego e os suplementos gregos de Ester  e Daniel. Para uma breve recordação, o cânon hebraico lista os seguintes  livros:
 Pentateuco: 1- Gênesis, 2- Êxodo, 3- Levítico, 4- Números, 5-  Deuteronômio;  Profetas: [anteriores] 6- Josué, 7- Juízes, 8- Samuel (I e II), 9- Reis (I  e II), [posteriores]10- Isaías, 11- Jeremias, 12- Ezequiel, 13- ‘Os Doze’  profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias, Joel, Amós, Abdias,  Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;  Hagiógrafos: 14- Salmos, 15- Jó, 16- Provérbios, 17- Rute, 18- Cântico dos  Cânticos, 19- Eclesiastes (Coelet), 20- Lamentações, 21-Ester, 22- Daniel,  23- Esdras, 24- Neemias e 25- Crônicas. 
Aqui surge uma questão que agora poder ser respondida com  maior conhecimento de causa. Quando um candidato maçônico judeu presta um  juramento, a Torah deve ser posta no altar como Livro da Lei? Não. A Torah  é somente uma parte da Bíblia judaica. Colocar a Torah no altar seria o  equivalente para os cristãos de se colocar somente os quatro Evangelhos no  altar, sem as Epístolas, o Apocalipse etc. O Livro dos Profetas e os  Hagiográfos assumem um importante papel na adoração judaica e no  entendimento da lei judaica. A Torah é a mais importante seção da Bíblia,  e é particularmente venerada, mas não é toda a Escritura.              Seria, então, o caso de se colocar o Talmud no altar para os  candidatos judeus? Aqui, convém, esclarecer que o Talmud é um livro de  interpretação legal. O Talmud também ensina uma grande parte sobre o  pensamento judeu e a crença religiosa, mas ele não é a Sagrada Escritura.  As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino desempenham o mesmo  papel numa relação similar com a Bíblia dos cristãos, contudo, também não  são as Escrituras.
Surge agora uma outra pergunta. Os judeus usam chapéu em Loja?  Aqui convém distinguir entre o chapéu propriamente dito e quipá (kipah),  uma espécie de solidéu. O solidéu (solis Deo = só a Deus) designa o  pequeno barrete, geralmente feito de fazenda mole e flexível, a qual se ajusta à cabeça, com que os padres cobrem a coroa ou pouco mais e que deve  ser tirado ante o sacrário. A cobertura da cabeça é preconizada em  diversos ritos maçônicos (apesar da prática não ser uniforme) para os  Mestres em qualquer Sessão, ou para todos os Obreiros, ou apenas para os  Mestres em Sessão do terceiro grau. Geralmente tal cobertura é necessária  e feita com o chapéu negro desabado, podendo-se todavia, utilizar o  solidéu (que é o quipá hebraico) em Sessões do terceiro grau ou de Pompas  Fúnebres. O judaísmo adota a prática oriental de cobrir a cabeça durante  as orações como um sinal de respeito, enquanto nos países ocidentais, a  prática é totalmente ao contrário: descobre-se a cabeça exatamente pela  mesma razão. Algumas Obediências Maçônicas decidiram que o quipá  (iarmulque [yarmulke], barrete, tiara, etc.) não é um chapéu no sentido  maçônico, mas um elemento do vestuário. O R\E\E\A\adota a opinião que o  barrete do rito não deve ser removido, por exemplo, durante a saudação da  bandeira. Deve ser considerado, também em maçonaria, o barrete frígio, que  era um pequeno boné de feltro, de forma cônica e com um pequeno rebordo,  com o qual, na Antigüidade, o senhor cobria a cabeça do escravo na  cerimônia de libertação e que era tomado como emblema de liberdade; graças  a isso, ele é, em alguns ritos, um símbolo maçônico, já que a maçonaria  sempre foi libertária.
Uma última distinção deve ser feita sobre o diferente uso do  conceito fariseu entre cristãos e judeus. O judaísmo moderno é farisaico  no seu temperamento, mas os judeus não usam a palavra como um sinônimo de  “hipócrita”. É provável que este último significado adveio de um conflito  entre aqueles que escolheram seguir Jesus e Paulo e aqueles que  permaneceram com o cerne da fé judaica. Naquele tempo, os fariseus  dominavam o pensamento e a prática judaica e é melhor denunciar o  farisaísmo como um desvio do pensamento judeu do que denunciar os judeus  propriamente ditos, desde que os antigos cristãos almejavam converter os  judeus. Os fariseus e os saduceus eram os competidores primários no  pensamento e na prática religiosa dos judeus, embora houvesse outros  grupos, como os essênios, buscando oferecer idéias diferentes. Os saduceus  eram o partido da classe sacerdotal e mantinham a posição de que somente a  Lei escrita deveria ser seguida à risca. Os fariseus conseguiam fazer uma  combinação mais flexível entre a Lei escrita e a oral. Outra importante  distinção era que os fariseus afirmavam que uma pessoa não deveria  pertencer necessariamente à classe sacerdotal para bem cumprir os  mandamentos e adorar a Deus. É esta última diferença a mais importante no  desenvolvimento do judaísmo na sua forma para os últimos dois mil anos.  Alguns autores fazem um símile entre este conflito e o da Reforma  protestante, quinze séculos depois. Existem traços comuns entre os rituais, símbolos e palavras  maçônicos e judaicos. Um dos landmarques judaicos é a crença num Deus que  criou tudo na nossa existência e que nos deu uma Lei para ser seguida,  incluindo, ipso facto, os preceitos morais de relacionamento humano. A  crença em Deus, a prece, a imortalidade da alma, a caridade, o agir  respeitosamente entre os seus semelhantes fazem parte integrante do  ideário maçônico - pelo menos da maçonaria teísta - como também do  judaísmo, e por que não dizer de todas as grandes religiões do mundo (o  budismo seria um caso à parte).  O judaísmo ensina que a Lei de Deus está contida na Torah, a parte  principal da bíblia judaica que contem os 5 primeiros livros de toda a  Bíblia, como visto anteriormente, ou seja o Pentateuco dos cristãos. A  tradição judaica ensina que a Torah é a eterna lei dada por Deus e é  completa, nunca será mudada até mesmo por Deus e, obviamente, nunca poderá  ser alterada por qualquer mortal. Já aqui surge, naturalmente, uma  comparação com os landmarques maçônicos que preceituam não estar no poder  de qualquer homem-maçom ou corpo maçônico fazer inovações na estrutura  básica da maçonaria. Nos tempos modernos, ambas as assertivas podem  cheirar politicamente incorretas, apresentando um odor dogmático que  repulsa as mentes liberais e tolerantes no limiar do terceiro milênio, mas  convém salientar que isto se refere aos fundamentos que deverão permanecer  intocados e intocáveis. Tanto que um dos livros clássicos de Pike se  intitula Moral e Dogma. Assim, maçonaria e judaísmo, tais como os padrões  éticos das outras grandes religiões, ensinam que devemos nos  auto-disciplinar e manter nossas paixões em constante guarda. O  disciplinamento ritualístico, seja nas sinagogas, seja nas lojas  maçônicas, auxilia a desenvolver esta habilidade.
Outra similitude poderá, também, ser encontrada na cerimônia  da circuncisão e do Bar Mitzvah. Logo após o nascimento de todo judeu  homem, ele é circuncidado pelo rabino, ou seja é feito o corte no prepúcio  do pênis do bebê, numa cerimônia familiar como um sinal ancestral de  aliança entre Deus e o patriarca Abraão. Treze anos depois, já  adolescente, o mesmo judeu macho participa do Bar Mitzvah que consiste em  aprender a recitar preces e passagens bíblicas em hebraico e a participar  em rituais judaicos quando, enfim, adquire todos os direitos e deveres do  homem judeu. Todos os maçons já fizeram, aqui, a comparação com a  iniciação maçônica do profano e a exaltação ao grau de mestre quando se  adquire a plenitude maçônica...
No tocante à liberdade individual, maçonaria e judaísmo emulam  para ver quem apresenta maior desempenho de respeito e apoio. Tal fato,  contudo, não é exclusivo dos dois, pois o cristianismo apresenta, também,  considerações profundas sobre o livre arbítrio, mas não é o caso de ser  aqui discutido. O judaísmo ensina que todo ser humano é capaz do bem e do  mal e tenta ajudar o fiel a usar o livre arbítrio para escolher o caminho  eticamente correto. A maçonaria ensina que aqueles que são moralmente  capazes podem encontrar a “luz” na maçonaria se eles desejarem isto por  suas próprias vontades livres. Os maçons franceses, principalmente os do  Grande Oriente de França, chegaram ao ponto de colocar como um dos seus  lemas a liberdade absoluta de pensamento. O conceito de exercitar a  vontade livre para aceitar a lei e a reparação pelas transgressões  passadas é o que preconiza o Rosh Hashanah e o Yom Kippur. Os judeus  acreditam que dez dias no início do novo ano judeu devem ser usados para  reparar os pecados passados e buscar a resolução firme de evitar o pecado  no futuro. De modo análogo, a maçonaria ensina que todo homem deve lutar  para crescer moralmente e livrar-se de todo preconceito. Não é à toa que a  disputa entre a maçonaria francesa e a inglesa se dá entre a liberdade  absoluta de pensamento, preconizada pelos franceses, contra o teísmo  inglês que forçou a própria reformulação da Constituição de Anderson,  quinze anos após a sua promulgação.
A luz é um importante símbolo tanto no judaísmo como na  maçonaria. “Pois o preceito é uma lâmpada, e a instrução é uma luz”, Prov.  6, 23. Um dos grandes feriados judaicos é o Chanukah, ou seja o Festival  das Luzes, comemorando a vitória do povo de Israel sobre aqueles que  tinham feito da prática da religião um crime punível pela morte ali pelo  ano 165 a. E. V. (Os judeus substituem o antes de Cristo e o depois de  Cristo pelo antes e depois da Era Vulgar). A Luz é um dos mais densos  símbolos na maçonaria, pois representa (para os maçons de linha inglesa) o  espírito divino, a liberdade religiosa, designando (para os maçons de  linha francesa) a ilustração, o esclarecimento, o que esclarece o  espírito, a claridade intelectual. A Luz, para o maçom, não é a material,  mas a do intelecto, da razão, é a meta máxima do iniciado maçom, que,  vindo das trevas do Ocidente, caminha em direção ao Oriente, onde reina o  Sol. Castellani diz que graças a essa busca da Verdade, do Conhecimento e  da Razão é que os maçons autodenominam-se Filhos da Luz; e talvez não  tenha sido por acaso que a Maçonaria, em sua forma atual, a dos Aceitos,  nasceu no “Século das Luzes”, o século XVIII.
Outro símbolo compartilhado é o tão decantado Templo de  Salomão. Figura como uma parte central na religião judaica, não só, por  ser o rei Salomão uma das maiores figuras do panteão de Israel, como o  Templo representar o zênite da religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a  figura de Salomão, à da construção do Templo, pois os maçons são,  simbolicamente, antes de tudo, construtores, pedreiros, geómetras e  arquitetos. Os rituais maçônicos estão prenhes de lendas sobre a  construção do Templo de Salomão. Para os maçons existem três Salomões: o  Salomão maçônico, o bíblico e o histórico.
Outro traço cultural comum é a obediência para com a  autoridade. Max Weber propôs três tipos de autoridade: a tradicional, a  carismática e a racional-legal. A primeira adstrita às sociedades antigas,  a segunda referente aos surtos de carisma que a humanidade vive de tempos  em tempos e a terceira, apanágio da modernidade. A tradição judaica ensina  uma obediência respeitosa para com os pais e os rabinos. A maçonaria  ensina, desde a Constituição de Anderson de 1723, o respeito para com a  autoridade legitimamente constituída. (Este preceito é cristalino na  maçonaria de cunho anglo-saxão, já os latinos, no embate contra o trono e  a cruz...).
 Como último aspecto comum, têm-se os esforços positivos na  maçonaria e no judaísmo para encorajar o aprendizado. A cultura judaica  tem uma larga tradição de impulsionar o maior número de judeus a se  notabilizar pelo conhecimento nas artes, na literatura, na ciência, na  tecnologia, nas profissões em geral. Durante séculos, os judeus têm-se  destacado nos diversos campos do conhecimento humano e o seu empenho em  melhorar suas escolas e seus centros de ensino demonstram cabalmente isto.  Digno de notar-se é que as famosas escolas talmúdicas - as yeshivas vem do  verbo lashevet, ou seja sentar-se. Deste modo para aprender é necessário  sentar-se nos bancos escolares. Assim, também, na maçonaria, nota-se uma  preocupação constante, cada vez maior, com o desenvolvimento intelectual  dos seus epígonos, no fundo, não só como um meio de melhorar a sua escola  de fraternidade e civismo como também para perpetuar os seus ideais e  permanecer como uma das mais ricas tradições do mundo moderno.

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