sexta-feira, 11 de março de 2011

MONOGRAFIAS MAÇÔNICAS


Nota do webmaster: Aos irmãos que estranharem certos termos "expostos" esclarecemos: A citação das fontes é imprescindível em um texto de internet e a mesma deve incluir a inserção do link de onde se retirou, portanto a modificação ou supressão de qualquer parte do texto se torna inócua. Ademais, este webmaster não entende que haja maiores exposições se não as etimológicas.

pelo Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33
MAÇONARIA E JUDAÍSMO
 A tradição judaica não é dominada por muitos escritores maçônicos que, por isto mesmo, cometem muitos pecados de interpretação no tocante a sua influência na maçonaria. Antes de apontar a influência  judaica na maçonaria seria interessante fixar alguns traços da cultura  judaica, comumente desprezados, para não se incorrer em erros lamentáveis.  Veja-se, por exemplo, as colunas do Templo de Salomão que estão citadas em  Reis I, 7, 21: “Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a  coluna do lado direito, à qual deu o nome de Jaquin; ergueu a coluna da  esquerda e chamou-a Boaz”. Quando se pergunta a um professor de hebraico o  que significa BOAZ, ele discorrerá sobre o significado e a tradução desta  palavra. Se perguntarmos, ao mesmo professor, o que significa BOOZ, muito  empregada pelos maçons franceses e repetida pelos brasileiros e que é uma  corrupção de BOAZ, ele não saberá, obviamente, o significado da palavra,  pois ela não tem nada a ver com o hebraico. Quanta discussão inútil se  evitaria se se pudesse resolver a questão filologicamente.   Os caracteres da escrita hebraica não possuem vogais.  Normalmente são substituídos por sinais (massoréticos) que agem como  vogais. Assim se um judeu religioso escrevesse o nome de Deus em hebraico  no alfabeto ocidental soaria algo como: D--s ou N-ss-  S-nh-r, tomando  todo o cuidado para não tomar o santo nome em vão. Os judeus pronunciam o  nome de Deus de várias maneiras: El, Eloim, El Shadai, Adonai etc. Contudo, o nome inefável de Deus [desnecessário dizer que o hebraico se lê  da direita para a esquerda] raríssimamente é grafado (quando o é, normalmente para uso em pesquisa etimológica sobre a origem do Nome) ou  pronunciado (sendo nestas pouquíssimas vezes, não é propriamente  pronunciando e sim soletrado com as letras hebraicas: iod, hei, vav e  hei). Em inglês, o nome inefável é transliterado como YHVH (Javé em  Português como se verá a seguir). Os estudiosos cristãos ensinam que os  judeus adoram Deus com um nome relacionado com a letra W. Tal fato se deve  a dominação que os alemães exerceram no campo teológico nos últimos  duzentos anos. O W em alemão é pronunciando como o V em português e inglês  e o vav em hebraico. Os alemães também grafam como J onde encontram o iod  hebreu ou o Y em inglês (tal letra inexiste no alfabeto português) quando  ele ocorre. Assim YHVH apareceria como JHWH. A Bíblia de Jerusalém grafa  como Javé e/ou Iahweh.
A tradição judaica afirma que a atual pronúncia do Nome é um  segredo para sempre perdido desde a destruição do Templo e é considerado  impróprio tentar pronunciar o Nome. Quando o Nome ocorre em caracteres  hebraicos deve ser usada uma palavra substituta, ou seja Adonai.
Outro traço importante na cultura religiosa hebraica é o termo  Bíblia. Claro que Bíblia é o têrmo português para a palavra hebraica  Tanach. Tanach ou Tanack é um acrônimo construído pelas três seções da  Bíblia: a Torah, ou seja a Lei, o Nevi’im, ou seja os Profetas e o Kesuvim  ou Ketuvim, ou seja os Escritos ou os Hagiógrafos. Na versão moderna,  constituem os 39 livros (considerando-se Samuel I e II e Reis I e II como  livros separados) da Escritura Hebraica que, obviamente, os judeus não  chamam de Velho Testamento. Aquilo que os cristãos chamam de Velho  Testamento e Novo Testamento, os judeus chamam de Escritura Hebraica e  Escritura Cristã. O cânon hebraico difere do cânon cristão por  desconsiderar os livros escritos em grego e os suplementos gregos de Ester  e Daniel. Para uma breve recordação, o cânon hebraico lista os seguintes  livros:
 Pentateuco: 1- Gênesis, 2- Êxodo, 3- Levítico, 4- Números, 5-  Deuteronômio;  Profetas: [anteriores] 6- Josué, 7- Juízes, 8- Samuel (I e II), 9- Reis (I  e II), [posteriores]10- Isaías, 11- Jeremias, 12- Ezequiel, 13- ‘Os Doze’  profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias, Joel, Amós, Abdias,  Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;  Hagiógrafos: 14- Salmos, 15- Jó, 16- Provérbios, 17- Rute, 18- Cântico dos  Cânticos, 19- Eclesiastes (Coelet), 20- Lamentações, 21-Ester, 22- Daniel,  23- Esdras, 24- Neemias e 25- Crônicas. 
Aqui surge uma questão que agora poder ser respondida com  maior conhecimento de causa. Quando um candidato maçônico judeu presta um  juramento, a Torah deve ser posta no altar como Livro da Lei? Não. A Torah  é somente uma parte da Bíblia judaica. Colocar a Torah no altar seria o  equivalente para os cristãos de se colocar somente os quatro Evangelhos no  altar, sem as Epístolas, o Apocalipse etc. O Livro dos Profetas e os  Hagiográfos assumem um importante papel na adoração judaica e no  entendimento da lei judaica. A Torah é a mais importante seção da Bíblia,  e é particularmente venerada, mas não é toda a Escritura.              Seria, então, o caso de se colocar o Talmud no altar para os  candidatos judeus? Aqui, convém, esclarecer que o Talmud é um livro de  interpretação legal. O Talmud também ensina uma grande parte sobre o  pensamento judeu e a crença religiosa, mas ele não é a Sagrada Escritura.  As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino desempenham o mesmo  papel numa relação similar com a Bíblia dos cristãos, contudo, também não  são as Escrituras.
Surge agora uma outra pergunta. Os judeus usam chapéu em Loja?  Aqui convém distinguir entre o chapéu propriamente dito e quipá (kipah),  uma espécie de solidéu. O solidéu (solis Deo = só a Deus) designa o  pequeno barrete, geralmente feito de fazenda mole e flexível, a qual se ajusta à cabeça, com que os padres cobrem a coroa ou pouco mais e que deve  ser tirado ante o sacrário. A cobertura da cabeça é preconizada em  diversos ritos maçônicos (apesar da prática não ser uniforme) para os  Mestres em qualquer Sessão, ou para todos os Obreiros, ou apenas para os  Mestres em Sessão do terceiro grau. Geralmente tal cobertura é necessária  e feita com o chapéu negro desabado, podendo-se todavia, utilizar o  solidéu (que é o quipá hebraico) em Sessões do terceiro grau ou de Pompas  Fúnebres. O judaísmo adota a prática oriental de cobrir a cabeça durante  as orações como um sinal de respeito, enquanto nos países ocidentais, a  prática é totalmente ao contrário: descobre-se a cabeça exatamente pela  mesma razão. Algumas Obediências Maçônicas decidiram que o quipá  (iarmulque [yarmulke], barrete, tiara, etc.) não é um chapéu no sentido  maçônico, mas um elemento do vestuário. O R\E\E\A\adota a opinião que o  barrete do rito não deve ser removido, por exemplo, durante a saudação da  bandeira. Deve ser considerado, também em maçonaria, o barrete frígio, que  era um pequeno boné de feltro, de forma cônica e com um pequeno rebordo,  com o qual, na Antigüidade, o senhor cobria a cabeça do escravo na  cerimônia de libertação e que era tomado como emblema de liberdade; graças  a isso, ele é, em alguns ritos, um símbolo maçônico, já que a maçonaria  sempre foi libertária.
Uma última distinção deve ser feita sobre o diferente uso do  conceito fariseu entre cristãos e judeus. O judaísmo moderno é farisaico  no seu temperamento, mas os judeus não usam a palavra como um sinônimo de  “hipócrita”. É provável que este último significado adveio de um conflito  entre aqueles que escolheram seguir Jesus e Paulo e aqueles que  permaneceram com o cerne da fé judaica. Naquele tempo, os fariseus  dominavam o pensamento e a prática judaica e é melhor denunciar o  farisaísmo como um desvio do pensamento judeu do que denunciar os judeus  propriamente ditos, desde que os antigos cristãos almejavam converter os  judeus. Os fariseus e os saduceus eram os competidores primários no  pensamento e na prática religiosa dos judeus, embora houvesse outros  grupos, como os essênios, buscando oferecer idéias diferentes. Os saduceus  eram o partido da classe sacerdotal e mantinham a posição de que somente a  Lei escrita deveria ser seguida à risca. Os fariseus conseguiam fazer uma  combinação mais flexível entre a Lei escrita e a oral. Outra importante  distinção era que os fariseus afirmavam que uma pessoa não deveria  pertencer necessariamente à classe sacerdotal para bem cumprir os  mandamentos e adorar a Deus. É esta última diferença a mais importante no  desenvolvimento do judaísmo na sua forma para os últimos dois mil anos.  Alguns autores fazem um símile entre este conflito e o da Reforma  protestante, quinze séculos depois. Existem traços comuns entre os rituais, símbolos e palavras  maçônicos e judaicos. Um dos landmarques judaicos é a crença num Deus que  criou tudo na nossa existência e que nos deu uma Lei para ser seguida,  incluindo, ipso facto, os preceitos morais de relacionamento humano. A  crença em Deus, a prece, a imortalidade da alma, a caridade, o agir  respeitosamente entre os seus semelhantes fazem parte integrante do  ideário maçônico - pelo menos da maçonaria teísta - como também do  judaísmo, e por que não dizer de todas as grandes religiões do mundo (o  budismo seria um caso à parte).  O judaísmo ensina que a Lei de Deus está contida na Torah, a parte  principal da bíblia judaica que contem os 5 primeiros livros de toda a  Bíblia, como visto anteriormente, ou seja o Pentateuco dos cristãos. A  tradição judaica ensina que a Torah é a eterna lei dada por Deus e é  completa, nunca será mudada até mesmo por Deus e, obviamente, nunca poderá  ser alterada por qualquer mortal. Já aqui surge, naturalmente, uma  comparação com os landmarques maçônicos que preceituam não estar no poder  de qualquer homem-maçom ou corpo maçônico fazer inovações na estrutura  básica da maçonaria. Nos tempos modernos, ambas as assertivas podem  cheirar politicamente incorretas, apresentando um odor dogmático que  repulsa as mentes liberais e tolerantes no limiar do terceiro milênio, mas  convém salientar que isto se refere aos fundamentos que deverão permanecer  intocados e intocáveis. Tanto que um dos livros clássicos de Pike se  intitula Moral e Dogma. Assim, maçonaria e judaísmo, tais como os padrões  éticos das outras grandes religiões, ensinam que devemos nos  auto-disciplinar e manter nossas paixões em constante guarda. O  disciplinamento ritualístico, seja nas sinagogas, seja nas lojas  maçônicas, auxilia a desenvolver esta habilidade.
Outra similitude poderá, também, ser encontrada na cerimônia  da circuncisão e do Bar Mitzvah. Logo após o nascimento de todo judeu  homem, ele é circuncidado pelo rabino, ou seja é feito o corte no prepúcio  do pênis do bebê, numa cerimônia familiar como um sinal ancestral de  aliança entre Deus e o patriarca Abraão. Treze anos depois, já  adolescente, o mesmo judeu macho participa do Bar Mitzvah que consiste em  aprender a recitar preces e passagens bíblicas em hebraico e a participar  em rituais judaicos quando, enfim, adquire todos os direitos e deveres do  homem judeu. Todos os maçons já fizeram, aqui, a comparação com a  iniciação maçônica do profano e a exaltação ao grau de mestre quando se  adquire a plenitude maçônica...
No tocante à liberdade individual, maçonaria e judaísmo emulam  para ver quem apresenta maior desempenho de respeito e apoio. Tal fato,  contudo, não é exclusivo dos dois, pois o cristianismo apresenta, também,  considerações profundas sobre o livre arbítrio, mas não é o caso de ser  aqui discutido. O judaísmo ensina que todo ser humano é capaz do bem e do  mal e tenta ajudar o fiel a usar o livre arbítrio para escolher o caminho  eticamente correto. A maçonaria ensina que aqueles que são moralmente  capazes podem encontrar a “luz” na maçonaria se eles desejarem isto por  suas próprias vontades livres. Os maçons franceses, principalmente os do  Grande Oriente de França, chegaram ao ponto de colocar como um dos seus  lemas a liberdade absoluta de pensamento. O conceito de exercitar a  vontade livre para aceitar a lei e a reparação pelas transgressões  passadas é o que preconiza o Rosh Hashanah e o Yom Kippur. Os judeus  acreditam que dez dias no início do novo ano judeu devem ser usados para  reparar os pecados passados e buscar a resolução firme de evitar o pecado  no futuro. De modo análogo, a maçonaria ensina que todo homem deve lutar  para crescer moralmente e livrar-se de todo preconceito. Não é à toa que a  disputa entre a maçonaria francesa e a inglesa se dá entre a liberdade  absoluta de pensamento, preconizada pelos franceses, contra o teísmo  inglês que forçou a própria reformulação da Constituição de Anderson,  quinze anos após a sua promulgação.
A luz é um importante símbolo tanto no judaísmo como na  maçonaria. “Pois o preceito é uma lâmpada, e a instrução é uma luz”, Prov.  6, 23. Um dos grandes feriados judaicos é o Chanukah, ou seja o Festival  das Luzes, comemorando a vitória do povo de Israel sobre aqueles que  tinham feito da prática da religião um crime punível pela morte ali pelo  ano 165 a. E. V. (Os judeus substituem o antes de Cristo e o depois de  Cristo pelo antes e depois da Era Vulgar). A Luz é um dos mais densos  símbolos na maçonaria, pois representa (para os maçons de linha inglesa) o  espírito divino, a liberdade religiosa, designando (para os maçons de  linha francesa) a ilustração, o esclarecimento, o que esclarece o  espírito, a claridade intelectual. A Luz, para o maçom, não é a material,  mas a do intelecto, da razão, é a meta máxima do iniciado maçom, que,  vindo das trevas do Ocidente, caminha em direção ao Oriente, onde reina o  Sol. Castellani diz que graças a essa busca da Verdade, do Conhecimento e  da Razão é que os maçons autodenominam-se Filhos da Luz; e talvez não  tenha sido por acaso que a Maçonaria, em sua forma atual, a dos Aceitos,  nasceu no “Século das Luzes”, o século XVIII.
Outro símbolo compartilhado é o tão decantado Templo de  Salomão. Figura como uma parte central na religião judaica, não só, por  ser o rei Salomão uma das maiores figuras do panteão de Israel, como o  Templo representar o zênite da religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a  figura de Salomão, à da construção do Templo, pois os maçons são,  simbolicamente, antes de tudo, construtores, pedreiros, geómetras e  arquitetos. Os rituais maçônicos estão prenhes de lendas sobre a  construção do Templo de Salomão. Para os maçons existem três Salomões: o  Salomão maçônico, o bíblico e o histórico.
Outro traço cultural comum é a obediência para com a  autoridade. Max Weber propôs três tipos de autoridade: a tradicional, a  carismática e a racional-legal. A primeira adstrita às sociedades antigas,  a segunda referente aos surtos de carisma que a humanidade vive de tempos  em tempos e a terceira, apanágio da modernidade. A tradição judaica ensina  uma obediência respeitosa para com os pais e os rabinos. A maçonaria  ensina, desde a Constituição de Anderson de 1723, o respeito para com a  autoridade legitimamente constituída. (Este preceito é cristalino na  maçonaria de cunho anglo-saxão, já os latinos, no embate contra o trono e  a cruz...).
 Como último aspecto comum, têm-se os esforços positivos na  maçonaria e no judaísmo para encorajar o aprendizado. A cultura judaica  tem uma larga tradição de impulsionar o maior número de judeus a se  notabilizar pelo conhecimento nas artes, na literatura, na ciência, na  tecnologia, nas profissões em geral. Durante séculos, os judeus têm-se  destacado nos diversos campos do conhecimento humano e o seu empenho em  melhorar suas escolas e seus centros de ensino demonstram cabalmente isto.  Digno de notar-se é que as famosas escolas talmúdicas - as yeshivas vem do  verbo lashevet, ou seja sentar-se. Deste modo para aprender é necessário  sentar-se nos bancos escolares. Assim, também, na maçonaria, nota-se uma  preocupação constante, cada vez maior, com o desenvolvimento intelectual  dos seus epígonos, no fundo, não só como um meio de melhorar a sua escola  de fraternidade e civismo como também para perpetuar os seus ideais e  permanecer como uma das mais ricas tradições do mundo moderno.

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